quinta-feira, 14 de março de 2013

Deponia - Análise


"Parece que hoje em dia os jogos Adventure são uma forma de arte perdida, que existe somente em nossas memórias, nos nossos sonhos... E na Alemanha."

Foi isso que Tim Schafer disse sobre os Adventures, em seu vídeo do Kickstarter. E provavelmente a alemã Daedalic Entertainment, que desenvolveu jogos como The Whispered World e A New Beginning, tem certa parcela de culpa nisso.

Pode-se dizer que a Daedalic é quase uma substituta da LucasArts/Sierra. Eles ainda não fizeram jogos épicos ou memoráveis, mas com certeza estão produzindo jogos de aventura de excelente qualidade, fazendo com que as aventuras não fiquem somente em nossas memórias ou sonhos. E Deponia é um excelente exemplo disso.




Um mundo de lixo

Vou evitar qualquer trocadilho que diga que este jogo é um lixo completo e ir direto ao ponto: Deponia é uma espécie de planeta lixão. Olhe no horizonte e sua visão com certeza irá encontrar isso, e somente isso: lixo. E é nesse planeta, mais especificamente no vilarejo de Kuvaq, que iremos começar nossa aventura com o herói Rufus.

Rufus é um jovem egocêntrico ao extremo que vive de favor com a ex-namorada Toni (que o odeia, com toda a razão) e quer sair desesperadamente do planeta sujo e fétido que se encontra, e ir para Elysium, o planeta utópico que flutua acima de Deponia. O problema é ninguém jamais conseguiu chegar lá.

Elysium: o sonho (clique para ampliar)

Logo no início da história, vemos Rufus executando um dos seus planos "infalíveis". Ele tenta subir a bordo de uma espécie de nave Elysiana que está de passagem por Kuvaq. Além de tudo sair exatamente como não foi planejado, Rufus cai da nave e ainda leva junto com ele a bela passageira Elysiana Goal. Os dois sobrevivem, mas Goal fica desacordada na queda.

Uma das paisagens de Deponia (clique para ampliar)

Rufus, nosso príncipe quase encantando, resolve galantemente que vai ajudar Goal a voltar pra casa. E essa é toda sua intenção. Ele nem deseja usar a moça como um passaporte para chegar a Elysium, imagina! E essa é a simples tarefa de Rufus, chegar em Elysium, e deixar Deponia para sempre salvar a pobre moça. Ou pelo menos é isso que ele pensa...


Rufus e companhia

Os personagens do jogo são bem construídos e têm muita personalidade. Claro que o protagonista é o que mais chama atenção. Rufus tem um egoísmo surreal, e vai passar por cima de tudo e de todos para alcançar seus objetivos, não importando se são conhecidos, autoridades, amigos ou ex-namoradas. Quando você acha que já viu de tudo, ele te surpreende. Os personagens secundários também não ficam para trás.

Wenzel é o fiel amigo de Rufus. Bem, não tão fiel assim. Parece que ele se diverte com todas as tentativas de fuga frustradas do amigo. E quando vê oportunidade de se dar bem, não pensa duas vezes, mesmo que tenha que prejudicar Rufus com isso. Podemos dizer que foram feitos um para o outro.

Toni é a ex-namorada de Rufus. Sempre que interage com ele, o faz de maneira fria e agressiva. Durante o jogo, às vezes Rufus cita algo que aconteceu entre eles, e dá para perceber como era sua "atuação" no relacionamento. Quando isso acontece, vemos que Toni não está errada em tratá-lo dessa maneira. Não tem como ter raiva da maneira como ela age, adquiri grande empatia por ela.

Toni dando um olá caloroso, para seu ex-namorado e melhor amigo (clique para ampliar)

E todos os outros, são muito bem construídos. Desde os que aparecem rapidamente, até alguns que aparecem um pouco mais, mas o suficiente para apresentar suas peculiaridades, como Gizmo, o bombeiro/policial/médico da cidade.

Mas mesmo essas personas bem elaboradas não seriam muita coisa, se não fosse a excelente dublagem. Não tive a oportunidade de jogar no idioma original, mas o inglês está muito bom. E não tem UM personagem, que você escute e pense "humm, essa voz não combina com esse cara".


Stand up

"Parece que alguém não quer ser seguido. Mas você não vai se livrar de mim tão facilmente. Eu sou como herpes... Uma versão legal de herpes"

O jogo é carregado de comicidade, e o humor é constante. Li muitas declarações na internet, de pessoas dizendo que as piadas não eram engraçadas e que o jogo falhou miseravelmente nesse quesito. Discordo. Eu considero o range do meu senso de humor grande: gosto desde Chaves até Monty Python, e Deponia me agradou bastante nesse sentido. Claro, que dizer isso não significar dizer que TODAS as tiradas são boas.

Rufus e sua pose padrão de susto (clique para ampliar)

Ás vezes quando você vai dialogar com alguém, as falas disponíveis não acrescentam em nada na trama do jogo, são puramente para tiradas cômicas, como quando você vai conversar com um certo pirata. Não me importo nem um pouco com isso, e acho que em um jogo desse estilo, é super válido.

Mecânica, colírio e enxaqueca

A mecânica é padrão de jogos de aventura de apontar-e-clicar: interaja com objetos e resolva quebra-cabeças. Como a maioria dos jogos atuais, só duas ações são possíveis, interagir (no botão esquerdo do mouse) e olhar (no botão direito).

Mas o gameplay tem uma adição tão simples quanto agradável: para acessar seu inventário basta rodar o scroll do mouse pra baixo, que um painel vai descer, mostrando todas as suas preciosas posses (a maioria roubada, como em todo adventure). Para fechar, basta rodar o scroll para cima, que o painel sobe, voltando para o jogo.

Parece que não faz diferença, mas faz. Depois de jogar Deponia, fiquei com a mania de usar o scroll em outros jogos para acessar meus itens. É mais rápido e mais cômodo do que apertar alguma tecla, ou levar o mouse até o canto da tela.

A arte de Deponia é um show à parte. Apesar do jogo se passar, em sua maior parte, ao redor de pilhas de lixo, o cenário é super colorido e muito agradável aos olhos. Dá até felicidade quando você alcança um novo cenário. Perdi algum tempo apreciando os detalhes de cada "sala".

Uma bela imagem de Kuvaq (clique para ampliar)

As animações in-game são bastante fluídas, mas infelizmente parece que não deram tanta atenção às cutscenes, onde as animações não ficaram tão interessantes.

A trilha sonora também é razoável. Não me chamou muito a atenção durante o jogo, mas a música tema é realmente muito bonita. E entre as "fases" do jogo, um bardo nos brinda com sua quase infinita criatividade musical. Huzzah!

Vamos falar agora do núcleo de qualquer jogo de aventura: os puzzles. Infelizmente Deponia peca um pouco nesse tópico. Apesar de todos os puzzles serem muito criativos e originais, eles são muitas vezes obscuros demais e longos demais, causando uma certa dor de cabeça desnecessária.

Às vezes, para resolver um problema pequeno, você terá que dar muitas voltas e perder muito tempo, isso acaba desanimando, pois acontece com muita frequência, principalmente no início do jogo.

Fazer café: um dos longos puzzles do jogo (clique para ampliar)

Depois de empacado horas, ao descobrir a solução (seja por um walkthrough na internet ou uma epifania macabra), a primeira coisa que você vai pensar é "não acredito que era isso que eu tinha que fazer". Mas você não vai pensar isso pela facilidade, e sim pelos raciocínios insanos e ilógicos que o jogo exige de você. Lá para o final, a dificuldade vai normalizando um pouco. Ou será que eu fui me acostumando à lógica maluca do jogo?

Fim...?

Falando em final, o de Deponia não agradou muita gente, já que o jogo não tem um propriamente dito. Está mais para reticências do que para ponto final.

Esse texto está sendo escrito atrasado, já que Deponia 2 (aka Chaos on Deponia) já foi lançado e um terceiro (Goodbye Deponia) já foi anunciado. Então se você ainda vai jogar Deponia, não terá aquela sensação de vazio no fim. Mas para quem jogou na data de lançamento, com certeza achou a situação bem desagradável.

De qualquer maneira, o segundo título da trilogia saiu apenas três meses depois do primeiro. Então provavelmente ninguém que estava esperando ansiosamente morreu entre o lançamento do primeiro e do segundo (assim espero).

Apesar de tudo, o jogo tem uma duração decente (aproximadamente 9 horas) de diversão para compensar isso.

Conclusão

Deponia junta vários personagens muito bem construídos, com excelente dublagem em uma trama que gera situações inusitadas e engraçadas. Tudo isso feito da melhor maneira estética possível, com paisagens cheias de cores e detalhes, agradando até os olhos mais críticos. Os quebra-cabeças são ligeiramente pesados e complicados, principalmente na primeira metade do jogo, o que pode se tornar um pouco massante. Se você tem certa paciência ou coragem para encarar esses desafios lógicos, e gosta de uma história cômica, então você com certeza deve dar uma chance para o jogo. Não irá se arrepender.

Nota: 3.5/5

Positivo:
- Arte bem feita
- Personagens bem construídos
- Humor divertido e constante
- Inovação na mecânica
- Duração razoável

Negativo:
- Quebra-cabeças muitas vezes obscuros e ilógicos
- Ritmo lento na primeira metade do jogo
- "Final" fraco


Trailer:




Informações:

Título: Deponia
Plataforma: PC
Desenvolvedor: Daedalic Entertainment
Publisher: Daedalic Entertainment
Gênero: point-and-click adventure (comédia)
Lançamento: 7 de agosto de 2012
Comprar: Steam ou GOG