segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

The Cave - Análise



Logo no início do jogo, nós (amantes de adventures) já temos um Déjà vu. Podemos escolher três dentre sete personagens para começar nossa aventura. Sim, já vimos isso antes no clássico Maniac Mansion, de Ron Gilbert, e é ele mesmo que está por trás de The Cave, com seu estilo único e típico humor Gilbertiano.


 A Caverna

Sete aventureiros estão em volta de uma fogueira em uma noite escura, prestes a entrar em uma Caverna e começar sua aventura. E é essa Caverma que nos explica o que está se passando. É, é isso mesmo que você leu, é uma caverna falante. Esse narrador misterioso nos explica que essas pessoas vão entrar na caverna em busca de seus desejos mais profundos.



Essas pessoas são: O Cavaleiro, em busca de uma espada de muito poder e prestígio. O Caipira, atrás do amor verdadeiro. A Aventureira, em busca de seus companheiros e de uma relíquia anciã. A Cientista, que deseja fazer uma grande descoberta para a humanidade. O Monge, que precisa encontrar seu mestre, para finalmente alcançar a iluminação espiritual. A Viajante do Tempo, que quer consertar um erro de um milhão de anos. E por fim, Os Gêmeos, que simplesmente querem brincar lá fora.

Os sete (ou seriam oito?)

A Partir da descrição da ambição desses personagens, podemos pensar que são apenas nobres aventureiros, mas conforme vamos adentrando as profundezas da caverna, descobrimos os segredos e motivações sombrias desses heróis.

O andamento do jogo ocorre da seguinte maneira: cada personagem tem uma habilidade especial e uma fase, que conta um pouco da sua história e de sua personalidade. E é nessa fase que você terá que realizar o desejo mais profundo do mesmo. Então, se você escolhe, por exemplo, o trio: Cavaleiro, Monge e Aventureira, durante sua peregrinação pela Caverna, você vai esbarrar com a fase particular de cada um deles. Nela, todos os outros são úteis, mas provavelmente você irá utilizar bastante (ou pelo menos em momentos chave) a habilidade especial do personagem em questão.
Além das fases referentes a cada personagem existem também as fases "globais", digamos assim, que aparecem no jogo independente da configuração de aventureiros que você escolhe no início. Durante sua jornada, entre cada fase específica, você passa por um desses trechos globais.

Para complementar a história de cada um dos heróis, conforme você vai avançando pela Caverna, vai encontrando pinturas na parede (rupestres?). Essas pinturas vão acrescentado a história de cada personagem, e fazendo a gente entender um pouco mais as motivações e desejos deles. Esse mistério de não saber exatamente a motivação de cada um também é interessante, e te faz não querer perder nenhuma pintura no caminho. Infelizmente, esse é o máximo de história que podemos extrair do jogo.

Mas se eu perguntar pra qualquer um que jogou qual é o melhor personagem do jogo, tenho certeza que a resposta será unânime: A Caverna. Apesar do jogo ter poucos diálogos (o que é uma pena), os pequenos comentários que a Caverna faz, principalmente sobre as atitudes morais dos personagens, tem o humor típico de Gilbert, só que mais ácido (e negro) do que nunca.


Side-Scroller ou Adventure?

Apesar do gameplay diferenciado, The Cave é mais adventure do que side-scroller, e a quantidade de puzzles deixa isso bem claro. O jogo é centrado neles.

Os puzzles são bem elaborados e equilibrados. Tem alguns bem simples, e outros que são desafiadores o suficiente para obrigar o jogador a parar e pensar um pouquinho antes de continuar. Mas nada que faça você ficar irritado ou desistir e correr para procurar um walkthrough na internet (inclusive tem um momento do jogo que ele mesmo indica um walkthrough para preguiçosos, com link e tudo).
Os puzzles de The Cave são totalmente lógicos, diferente de alguns outros adventures, que obriga o jogador a chegar a conclusões absurdas para continuar até o próximo segmento do jogo.

E aí? Onde você se enquadra?


Talvez o sistema de inventory seja um facilitador para os puzzles, já que é bem simples: cada personagem pode carregar no máximo um item.
Os puzzles requerem muito backtracking, e essa jogabilidade de plataforma não ajuda nem um pouco nesses momentos. Ter que ficar subindo as mesmas escadas e cordas várias vezes pode se tornar sacal, já que essa ação é muito lenta. E uma coisa simples como pular de uma plataforma para outra, pode ficar cansativo.

O jogo tem um modo multiplayer local (sem split-screen), mas se você estive jogando sozinho, muitas vezes terá o trabalho triplicado. Ao levar o personagem 1 do ponto A ao ponto B, você terá que fazer o mesmo caminhos com seus outros dois heróis (se quiser que eles estejam no mesmo lugar). Isso acontece muito durante o jogo, salvo alguns raros momentos que o jogo coloca todos juntos automaticamente. Outro fator cansativo, principalmente quando você já está no final do jogo.

Uma de suas longas (e lentas) jornadas escada acima

A ideia de colocar o jogo como um side-scroller é um ponto interessante a se discutir. Não sei ele foi feito assim para alcançar jogadores de nichos diferentes (já que jogos adventures não são muito mainstream) ou simplesmente para inovar a jogabilidade desse gênero. Se foi a última opção, não funcionou muito bem.

O jogo se classifica como adventure pela quantidade de puzzles, mas peca seriamente em diálogos e na história, e esses são os dois elementos primordiais de um adventure. Diálogos principalmente, se pensarmos em Ron Gilbert. Todo o tom cômico do jogo fica a cargo da Caverna, e isso (ele) ela faz muito bem. Mas seria interessante se os personagens não fossem mudos, e dialogassem com eventais NPCs.


Instant Replay

O fato de você poder escolher três dentre sete personagens já deixa claro que o jogo precisa ser terminado mais de uma vez, se você quer conhecer a história de todo mundo e aproveitar o máximo que The Cave tem a ofecerer.

Isso torna o fator replay do jogo alto. O Problema é que a quantidade de personagens jogáveis não é múltipla de três. Isso quer dizer que se você já jogou com seis personagens, vai ter que repetir dois na próxima vez, só pra zerar com o último. Então terá que refazer 2/3 do jogo, para apreciar 1/3 de novidade.


Visual

Uma coisa que me chamou a atenção é o visual do cenário. Principalmente as fases específicas de cada personagem, que são muito ricas em detalhes. Isso aliado com os gráficos do jogo, tornam The Cave uma excelente experiência visual.

O Cavaleiro
Esse visual ajuda muito na imersão. Em um momento você está numa caverna, no outro em uma pirâmide com sarcófagos e inscrições nas paredes. E quando você menos espera, está em um castelo medieval tentando roubar um dragão. Tantos ambientes diferentes, e mesmo assim o jogo consegue te convencer de que todos eles estão ali, nas profundezas de uma caverna (o que, a princípio, é ligeiramente nonsense).


Conclusão

A Caverna metafórica criada por Ron Gilbert sem dúvida nos proporciona muitos momentos divertidos e assustadores com seus personagens e situações inusitadas, e eu recomendo que você também entre nessa aventura. Os problemas citados, de maneira alguma comprometem a experiência do jogo.

Acho que pra quem quer entrar no mundo dos aventures de maneira suave, é uma boa pedida. No mais, recomendo a todos.

Nota: 4/5


Positivo
- Humor
- Puzzles com dificuldade balanceada
- Dublagem bem feita
- Fator replay
- A Caverna (com toda sua carisma)


Negativo
- Mecânica de side-scroller cansativa
- História poderia ser mais explorada
- Poucos diálogos